segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Cancro meu, cancro meu...quem é o mais forte, tu ou eu?

Sou eu!!!

Assim, sendo eu uma vitoriosa, sinto a necessidade de partilhar com todos, um pouco daquilo que me tornei como pessoa e a forma de ser e estar perante a minha passagem por cá!

A morte, é de facto algo que luto com todas as minhas forças para adiar o mais possível e que tenho grande pavor, mas que tenho vindo a aceitar como condição que me será imposta por Deus e que,  só tenho que respeitar!
Mas mesmo assim, rezo todos os dias, para que seja o mais tarde possivel. Não custa nada pedir, né?!

Ora bem, se Deus me ouvir e permitir, aproveitarei todo o tempo do mundo para dar continuidade ao que me propus, como ser, mulher, amiga e especialmente como mãe, sem deixar de ser um “espírito livre”…






...Respeitando sempre o espaço individual e intimo de cada um, os desejos e os sonhos de cada um, a essência e os segredos de cada um.
Assim, sinto que estou a amar com toda a pureza e verdade!

Diariamente exercito, a verdade, a cumplicidade, a espiritualidade e especialmente o respeito para com todos, e abomino o orgulho, o rancor, a raiva... de forma a não ser atingida por maus fluidos que me possam alterar a minha paz tão preciosa e a alegria de viver!






Ao longo deste percurso;
Deu-se um pleno despertar interior da minha capacidade de recriar os meus dias e de crescer num poder consciente, que é o “amor incondicional por mim”, podem acreditar que, amo-me verdadeiramente por aquilo que sou!
Deu-se um pleno despertar que apela a todos os meus cantos e recantos da alma como mulher, feita de amor e força, sensibilidade e firmeza, convicção e propósito...




Sinto-me uma vencedora e de alguma forma inteligente, pois tal como diz Fernando Pessoa:
- "Pedras no meu caminho? Apanharei e guardarei todas para construir um castelo…”
E com a verdade vos digo, no meu caminho tenho apanhado autênticos pedregulhos, tal como este cancro, mas o lado positivo disto é que vislumbro que o meu castelo será uma fortaleza com alicerces bem fortes!

Portanto, nesta luta de forças desiguais em que por vezes me senti completamente derrotada, cancro meu, tu não foste mais forte do que eu!!!

Até já...
Sandra Matinhos

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O que aprendi nestas "viagens"!

Aprendi a ver, pensar, ouvir e sentir tudo de forma diferente...

...até no meu retiro!


Aprendi...
Que não tenho que tolerar na minha vida mais situações desagradáveis, por muito pequenas que sejam.
Hoje, consigo convictamente dizer que não ao que realmente não me apetece fazer ou ouvir, de certa forma, tornei-me mais intolerante às coisas fúteis e menos boas!


Que Deus faz parte integrante da minha vida, e que sem Ele não seria um ser completo em termos espirituais e emocionais. Partilho com Ele, diariamente, todo os meus agradecimentos e ansiedades naturais e sinto que as respostas surgirão sempre nos momentos certos…com tudo isto desenvolvi uma virtude muito grande, a paciência!

Que todos os momentos da vida são para ser saboreados na sua plenitude quer esteja sozinha ou acompanhada!
Prova disso mesmo, foi ter decidido entre tratamentos (das quimios para a radioterapia), fazer uma viagem à Madeira na passagem-ano, sozinha durante 10 dias.


Ajudou-me a conhecer uma nova realidade do meu ser, como pessoa e como mulher! Vim de lá com muitas “gavetinhas” arrumadas, ideias organizadas e decisões tomadas, ou seja, vim renovada de corpo e alma, e claro, muito orgulhosa de mim mesma!



O melhor de tudo, foi  trazer uma mala cheia de grandes e inesqueciveis amizades, que perdurarão no meu coração! 
E já agora...dos copitos de poncha e de vinho que bebi por lá, em que a título de piada e ficando só entre nós, partilho que, após o meu regresso retomei ao ram-ram das análises, e acreditam que estava sem leucopénia, é verdade! Até sugeri ao oncologista para organizarmos umas excursões de oncológicos à ilha, mais propriamente à "taberna da poncha", em vez de, administrar as infindáveis e horrorosas injecções, eheheh! 

Cura na certa amigas, lol!!!


Aqui está uma prova... vinho e poncha!


Ainda aprendi...
Que afinal uma mulher com cancro de mama, continua a ser “mulher” no seu todo e mais valorizada e admirada por aqueles que nos rodeiam!
Agora já começo a perceber porquê que me tinha que cair o meu longo cabelo, cheio de lindos caracóis... Mudar o meu look, mesmo forçadamente, foi e tem sido gratificante ver e sentir, a minha reacção e a de quem me rodeia.

 Só neste percurso que dura há já mais de 2 anos, pude conhecer e sentir essências de pessoas com atitudes totalmente distintas para comigo. Apesar de, em parte ser doloroso ver algumas se afastarem, por outro lado, é gratificante ter a oportunidade de partilhar e usufruir o amor e amizade de outras pessoas que eu própria não esperava! Com isto quero dizer que, afinal “haverá sempre alguém” especial destinado para me aceitar nesta condição de vida.

Finalizo assim, com uma das minhas grandes aprendizagens...
É tudo uma questão de ver o lado bonito e positivo das coisas…

Volto já...
Sandra Matinhos









domingo, 7 de novembro de 2010

Isto é uma gratificação!



Minhas queridas "Guerreiras";

Depois de ler as vossas lindas mensagens de força e amizade, não podia deixar de vos agradecer e revelar a minha sensibilidade e emoção perante tamanha gratificação que estou a receber!

Eu sabia!!!
De alguma forma, sabia que, um dia Deus iria-me gratificar com algo enriquecedor para a minha pessoa, após tanto sofrimento. E, aqui estão as respostas, partilhar e receber em troca puras amizades de quem "fala a mesma linguagem" que eu! 

Muito obrigada, por seguirem o meu testemunho e prontamente oferecerem-me um pouco de "vós" nos comentários que me deixam, que sinto-os como autênticas "forças de vida".

Muita força a todas!

Beijo do coração
Até já...
Sandra Matinhos  

A aceitação...

Algum tempo depois de esta luta se tornar uma rotina do meu dia a dia, veio a aceitação!
Quando senti a necessidade de me agarrar à fé e voltar-me para Deus. Comecei a frequentar a igreja e receber o apoio das irmãs do convento do Carmelo no Patacão, que são uma força espiritual fantástica e incansáveis nas suas orações. Foi, nesta fase que se deu a minha reconciliação com Deus e redescobri um amor verdadeiro e incondicional… 
Em oração falei com Deus, expus as minhas necessidades, os meus medos e todas as esperanças que me alimentavam a vontade de viver.

Na oração, apresentei a minha própria história nas suas diferentes etapas, embora sem receber uma resposta imediata e visível aos meus olhos físicos, naturalmente!
Na oração, aprendi a desenvolver, não só uma estratégia ou um remédio para eliminar o sofrimento mas, especialmente, um recurso para enfrentá-lo.
A oração, foi e é, um caminho para me ajudar a amadurecer e expandir as minhas perspectivas pessoais e, para assim, me aproximar de Deus, reconquistando assim, a paz interior que é tão importante para o meu equilíbrio em todos os níveis.





Após quimioterapias e radioterapias, o que me trouxeram muito sofrimento, continuo presentemente a acreditar que, venci e vencerei qualquer batalha da vida com a ajuda de Deus!

Quando estou nos meus momentos de reflexão e interiorização, converso com Deus, e admito que este cancro veio por alguma razão especial e para me mostrar algo de novo à minha vida.

Pergunto-me o que será?
 
Mas no fundo sei que as respostas estão dentro de mim e naturalmente vão brotando, em forma de emoções, gestos e atitudes do quotidiano para comigo, pessoas e mundo!





É surpreendente a mutação de padrões que transportava do passado e que os tinha como os mais correctos mas que agora naturalmente deixam até de fazer sentido.
Todo este percurso é de facto uma evolução constante da vida, onde se aprende e reaprende.
Aqui faz todo o sentido dizer que, a vida é uma escola e neste momento, sinto-me na universidade a fazer um mestrado…Lol

Até já...
Sandra Matinhos
 

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Contínuando com as "estórias de emoções"!

Aqui começou o inicio da parte mais devastadora de todo o processo de luta, a cirurgia e os tratamentos, quimioterapia e radioterapia... que me tatuaram a alma, quer física quer emocionalmente, não consigo descrever, foi e é muito profundo e intimo…


Nestas fotos estão bem registadas a dor de alma que senti...elas falam por si!
É verdade, meus queridos e queridas, é mesmo por isto que passamos, ficar sem cabelo!...
Pode parecer exagero, mas no momento, a sensação foi como ficar desmembrada! Foi sem dúvida a parte que mais me custou,  a nível emocional e socialmente.
Acreditam que, de noite quando me levantava para ir beber água ou ir ao wc, não podia acender a luz para não me ver ao espelho, pois "esta figura" fazia-me despertar a mente para a realidade e já não conseguia voltar a adormecer...
E tantas vezes, que em casa ao passar distraidamente em frente ao espelho do meu corredor, me assustava comigo  própria, lol.
De facto, foi muito dificil adaptar-me a esta realidade!

Para vos dizer a verdade, nunca consegui ver a quimioterapia como aliada à minha cura, mesmo com a ajuda da minha psicóloga que tão sabiamente me tentou mostrar isso.
A quimioterapia, foi de facto um bicho papão que me veio fazer sentir mal, com dores, enjoos, vómitos e fazer-me ficar sem os meus lindos caracóis. Felizmente consegui sempre ultrapassar os preconceitos e a vergonha, arranjando mecanismo estéticos de disfarce, também porque fui sempre muito bem acompanhada pela unidade da psicologia que sempre me ajudou a elevar a minha auto-estima e formas de aceitar todo este processo.


Nos meus tratamentos de quimioterapia…
Os primeiros 4 ciclos de puro veneno!







Nas minhas hospitalizações…
Nem me reconheço!

Até breve...
Sandra Matinhos

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Porquê justo mim...


Na realidade, era o que me perguntava todos os dias!
 Porquê que eu tenho que passar por esta etapa tão difícil?
 Porquê que o meu percurso terreno não é linear, ou melhor, menos sinuoso?
 Porquê que eu tenho que ter um cancro de mama?...
 Receber um diagnóstico de cancro aos 35 anos não me deu uma perspectiva futura muito promissora e, sem qualquer dó ou piedade castrou-me de qualquer sonho ou fantasia que naturalmente alimentei ao longo da minha vida! Naquele momento o meu corpo e mente explodiram literalmente, senti-me desfeita em todo o meu ser, como pessoa e como mulher!
Em segundos ou minutos que me pareceram intermináveis deixei de pensar, senti-me envolta numa camisa-de-forças física e emocional!

A primeira reacção foi sem dúvida uma sensação de pânico e medo da morte. Foi incontrolável a sequência de pensamentos negativos que vieram à minha mente, isto tudo porque, todos nós de certa forma ainda crescemos numa era em que o cancro significava a morte, o que não deixa de infelizmente continuar a ser uma realidade!
Após a consciencialização da doença e do seu estado evolutivo, através de inúmeras pesquisas na Internet, leituras de entrevistas e reportagens de medicina e muitas questões colocadas aos técnicos de saúde e a outras pessoas com experiências semelhantes, fui me acalmando um pouco, mas nunca deixando de pensar, pensar, pensar…até cansar a alma!
A revolta foi outro sentimento que me assolou o coração, senti-me muito triste e revoltada com tudo…comigo própria, com os amigos, com familiares, com o mundo e com Deus! Simplesmente para mim, todos tinham culpa por eu estar doente!
Esta fase foi muito longa e dolorosa e, talvez em mim, perdurou mais tempo porque, para além de lutar pela vida, tive também que o fazer sem o apoio do meu companheiro que simplesmente não teve a capacidade de se manter ao meu lado e preferiu “abdicar de mim” neste percurso...
Para ser sincera, precisava muito que ele me dissesse que me continuava a amar e que eu como mulher em nada tinha desvalorizado para ele…isso seria muito importante e uma força para mim, acreditem!!!

Qualquer cancro é devastador sem dúvida, mas para mim como mulher, o facto de ser na mama, mexeu com o meu ego, com a minha auto-estima, com a minha feminilidade, maternidade e sexualidade. Deu-me a sensação de que não voltaria a ser uma mulher bonita e que, a partir daquele momento, tinha que esconder algo que até ali eu tinha orgulho em discretamente evidenciar num pequeno decote ou vestido, o que afinal até faz parte do ser mulher!




Aqui vão algumas fotos minhas antes do cancro! Assim, alguns relembram-se da Sandra e outros, conhecem-me tal como eu era...

Prometo que voltarei para dar continuidade ao meu testemunho e com mais "estórias"!

Até já...
Sandra Matinhos

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Quando tudo começou, deu-se a explosão do meu ser!

Acabadinha de fazer 35 anos, senti um nódulo na mama que cresceu, da noite para o dia...
Foi assustador, mas não quis dramatizar! Sim, porque temos sempre a tendência em não querer acreditar que algo de mau, como um cancro, nos vai surgir dum momento para o outro sem nos avisar previamente ou pedir autorização para nos vir sacaniar a vida por completo!!!
Pois...mas o pior do pior se confirmou.
- É cancro!!!
Foi aqui, neste exacto momento, que se deu a maior explosão do meu ser!
É muito forte e intimo para descrever tal sensação...
Vir agora criar um blogue e partilhar a minha experiência, é uma necessidade interior, pois uma das muitas lições que aprendi desta experiência de vida, foi que, Deus deu-me uma segunda oportunidade de viver, mas com a condição de ajudar outros sob váriadas formas.
Para mim, esta será uma delas, partilhar o meu testemunho!
Tenho muito para partilhar..."estórias" de emoções!
Ainda sou uma novata neste mundo dos blogues, mas prometo que irei exercitar e pesquisar, para que o meu trabalho resulte com o objectivo pretendido:
Partilhar a dor de alma (fisica, emocional e psicologica) que consegui superar e o renascer de uma nova mulher muito mais enriquecida em todos os sentidos!
É de alma e coração aberto e com toda a humildade que partilho - estou muito orgulhosa de mim!
Até já...
Sandra Matinhos