Quando me encontrava num dos meus
internamentos hospitalares causado pelos efeitos nefastos das quimioterapias e,
num sentimento de total desespero e medo de morrer, nas minhas conversas com
Deus, lembro-me que Lhe pedia, muito emocionada, que não me levasse tão cedo!
Claro que,
para ter a “ousadia” de Lhe pedir isto, só fazia sentido, para mim, se eu
conseguisse fundamentar bem a minha vontade. Naquele momento e naquela fase da
minha vida, onde se vence ou se morre, eu não podia deixar de lutar com todas
as minhas forças, quer físicas quer psicológicas ou até mesmo espirituais!
Sabia que não me podia entregar sem dar luta…ainda não era o momento de partir.
Eu sentia isso!
Eu bem que
fundamentava e arranjava argumentos válidos que justificassem o meu pedido.
Parecia uma criança a escrever uma cartinha ao Pai-Natal, onde, ao enumerar os
meus desejos, ao mesmo tempo sentia necessidade de Lhe relembrar o quanto me
tinha portado bem e o quanto iria valer a pena acreditar em mim para merecer
cada um deles!
Actualmente
vivo com eles tão presentes em mim, que todos os dias quando acordo,
relembro-os e agradeço a Deus por me ter ouvido e me permitir usufruir o
dia-a-dia com tantas alegrias e bençoes!
Havia
especialmente um pedido que eu tão convicta e fervorosamente Lhe pedia que até
me fazia uma certa confusão, pois, nessa altura, ainda não sabia como iria
provar-Lhe a minha capacidade de cumprir uma das minhas promessas, uma vez que,
seria para concretizar um dia, mesmo, não sabendo quando e como. Hoje, até me
riu da coragem e, ao mesmo tempo, da confusão que residia em mim, lol!
Esse meu
pedido era como um trato:
“ – Poupa-me
meu Deus que no futuro irei fazer sempre algo de útil a todos que me rodeiam,
irei arranjar forma de ser voluntária e solidária de causas nobres, só que
ainda não sei como nem exactamente quando! “
E assim fui
levando os meus dias, criando novas forças para me reerguer, vivenciando a vida
com outra plenitude e sabor e tentando descobrir algo que surgisse naturalmente
dentro de mim de modo a cumprir o que havia prometido ao meu "Pai-Natal"! Mas,
acreditem que, não foi nada fácil, uma vez que teimosamente não queria
concretizar algo com sabor a forçado somente para descartar a minha
consciência. Isso definitivamente não. Queria sim, algo que brotasse
naturalmente do coração! Pacientemente fazia uma auto-analise e filtrava o que
me ia surgindo sem qualquer tipo de pressão, pois pressentia que, o que tivesse
que ser eu iria reconhecer e concretizar com as maiores das naturalidades. Para
além do mais, tinha que ser, sem duvida alguma, algo que me desse verdadeiro
prazer, que me fizesse sentir em estado de graça!
Na verdade, ao
longo deste percurso fui descobrindo algumas formas de ajudar outras pessoas,
não sei dizer se de uma forma directa ou indirectamente, mas, o que é certo é
que, foram tomando forma e até resultaram em algo mais abrangente do que
inicialmente eu imaginava. Um exemplo disso mesmo foi a criação deste blogue
com o intuito de partilhar a minha experiência – cancro. Da forma mais natural
possível quis criar um exemplo de vida positivo dirigido, essencialmente, a
quem luta contra um cancro da mama! Mas o mais engraçado e curioso é que o “porque
justo a mim” tornou-se um blogue muito visitado e recomendado por inúmeras
pessoas, com diferentes experiências de vida - as que têm ou já tiveram cancro
e todas aquelas que de uma forma ou de outra estão ligadas a esta doença…
Com o coração
digo, fico muito feliz quando recebo mensagens de elogios e até de agradecimento
por ter tido esta iniciativa, por parte de mulheres e familiares que depositam
em mim uma confiança de partilha, onde expõem todos os seus medos, duvidas,
lágrimas, esperanças… Fico grata a Deus por me permitir ajudar, desta forma tão
singela, quem mais precisa duma palavra de conforto e/ou um exemplo positivo
que lhes dê um alento e uma lufada de força e acreditar que é possível vencer.
Tive imensas
ajudas, a diferentes níveis, nem há palavras para descrever quantas e de que
forma foram.
Outra gratidão que vive comigo no meu dia-a-dia!
Mas, tenho que
ser sincera, senti a falta desta força em particular, destes exemplos positivos
e de falar com pessoas que percebessem e falassem a “minha linguagem”. Não
havia, à minha volta quem partilhasse comigo… Não culpo ninguém, é claro, tenho
é que pensar que, felizmente seria porque não conhecia ninguém a passar por
este drama!
Entretanto o
tempo foi passando…
Para hoje, ter conseguido concretizar mais uma forma de
ajudar os outros! Brotou de dentro de mim tão natural e humildemente, que mais
parecia um clique “on”. Assim nasceu o projecto - Ajudar a Alexandra e seus
pais, uma família carenciada a vários níveis. Inicialmente pensei que seria
mais umas das minhas atitudes solidárias que normalmente venho a desenvolver ao
longo dos últimos tempos. Mas enganei-me, pois ao lançar a ideia, com a ajuda
preciosa das pessoas maravilhosas que me rodeiam, depressa se criou um projecto
com forma, corpo e asas, que por si só cresceu e resultou num gesto solidário
lindo e que, orgulhosamente, posso afirmar que foi dado à família Delgado um
pouquinho de tudo, desde bens alimentares, vestuários e calçados, ajuda
monetária e experiências agradáveis em visitas e convívios. Mas o mais
importante de tudo, foi partilhar o carinho, o respeito, o apoio e a amizade
que eles tanto precisavam desde há 19 anos para cá!
Tudo tem
corrido bem, tenho conseguido cumprir pouco a pouco o que havia prometido a
Deus!
Todos os dias de uma forma simples e de coração aberto dou de mim a quem
mais precisa e de que forma for.
E sim, era
isto mesmo que eu queria descobrir em mim e foi, certamente, com o ”trato” que
tive com Deus que despoletou esta missão de vida para me sentir útil e feliz! E
prometo que novos projectos irão surgir e que tudo farei para ir descobrindo
quais…
Eu sabia!!!
Sabia que ainda fazia muita falta por cá! Em boa hora
que tive a coragem de escrever esta cartinha ao meu querido Pai-Natal…
Boas Festas para todos, com muito amor e toda a paz merecida! Beijinhos