segunda-feira, 24 de junho de 2013

Faço 5 anos, estou de parabéns!!!



«Depois de ter terminado todos os tratamentos de quimioterapia e radioterapia em Agosto de 2009 seguiu-se uma temporada a que chamei de “descanso de guerreira” que vivi com a maior alegria possível, diria até que, com uma euforia enorme em que a sensação era de fazer, ver e sentir tudo que tinha sido privada nos últimos tempos... Até o palpitar do meu coração era mais sentido, parecia que até ele dançava ao som da emoção que eu sentia aquando sorria cada vez que pensava que estava livre. 
Como era bom saborear a minha liberdade!

Sensivelmente uns três meses depois do término dos tratamentos, deu-se início às consultas de rotina com os respectivos exames médicos para assim se ir avaliando a estabilidade da minha declarada cura. Nada que já não soubesse. Mas, somente aos poucos é que me fui apercebendo que durante mais uns anos esta seria uma nova rotina a adaptar à minha nova vida, o que na verdade fez-me consciencializar que realmente não estaria desvinculada do hospital de uma vez por todas, o que despoletou em mim um misto de sensações. Por um lado, sentia a já mencionada euforia de viver que me fazia sentir finalmente livre daquela vida “aprisionada”, parecia que me tinham aberto a porta da gaiola, mas por outro lado, ao querer abrir novamente as minhas asas e voar livremente sentia que já não seria possível fazê-lo da mesma forma e na sua plenitude total. 
Confusos?! É normal que sim, pois foi exactamente assim que me senti. 
Ora bem, quando represento em sentido figurado esta fase, quero naturalmente mostrar o quanto não me sentia totalmente livre e o porquê de no início não entender bem estas minhas sensações, uma vez que não era nada de novo para mim saber da existência destas rotinas médicas e exames. Sabia exactamente que seria assim que as coisas iriam funcionar.

Curiosamente, ao longo dos tratamentos me dei ao luxo, por puro merecimento, de florear este quadro - término dos tratamentos - de forma a ser o mais intenso e inesquecível possível para que pudesse suplantar todas as outras fases menos boas. Sabem aquela estratégia de criarmos algo de muito bom para esquecer tudo o resto? Sem dúvida que a última fatia do bolo, a mais apetecível, seria a minha! Mas, este momento não estava a ser exactamente tal como o tinha idealizado, na dita fatia faltava a tão desejada cereja do topo… 
Com alguma impaciência e ânsia tentava vislumbrar, algo que me iria trazer a tão desejada segurança e fazer desaparecer os medos que se haviam instalado em mim. É verdade que várias vezes dei por mim a tentar interpretar o que realmente me ia na alma. Tentando incessantemente decifrar quais eram efectivamente os medos que ainda se mantinham e os novos que estavam a aflorar na minha pessoa como se fossem pipocas a saltitar nas minhas emoções. Medos que eu já não esperava vir a sentir. Ingenuamente achava que, como já tinha sido sujeita ao pior dos piores, já estaria vacinada para tudo o resto que viesse daí para o futuro. Realmente que ingenuidade a minha! O pesado fardo dos tratamentos haviam terminado sim, mas isso não significava que não haveriam novos medos a surgir!

Foi então que percebi tudo!
Perante a proximidade das primeiras datas agendadas para fazer os novos exames médicos e de voltar às consultas com o oncologista para saber os resultados dava por mim num ataque incontrolável de ansiedade, a dormir muito mal, a comer pouco, a chorar frequentemente de tudo e de nada, a imaginar ouvir do médico que havia mais qualquer coisa relacionado com o cancro... Nitidamente os meus diabinhos estavam ao rubro dos rubros espicaçando a minha paz e minando tudo aquilo que eu havia idealizado. Mas que danadinhos estes maganos!

 Talvez até aqui eu não me quisesse consciencializar que os próximos anos iriam ser como viver uma liberdade condicional. Hoje, onde já vai havendo algum distanciamento dessa fase, dou por mim a conviver melhor e com mais calma esses momentos que continuam naturalmente a repetir-se. A rotina de consultas e exames instalou-se e com o continuar do tempo fui-me adaptando e desenvolvendo algumas estratégias de defesa. Para isso pude contar com a preciosa e sábia ajuda da minha psicóloga Ana Sofia Baptista que soube fazer-me acreditar que agi naturalmente  e de forma adequada  cada fase, reagindo com o meu natural instinto de defesa e com a minha capacidade nata de ver sempre o lado positivo das coisas. Fez-me aceitar ainda que, uma vez que o “botão” do medo fora accionado já não havia forma de o desligar. Havia sim, formas sábias de lidar com os cliques que este “botão” iria despertar ao longo do meu futuro. E foi assim que somei mais um grande ensinamento a nível pessoal com grande aplicação prática. Todos temos os nossos medos, é um facto, mas tudo se torna mais fácil quando os identificamos e aprendemos a lidar com eles, enfrentando-os! É verdade que conseguem fazer com que me sinta a viver numa liberdade condicional mas não conseguem, de todo, tirar-me o prazer de viver a minha nova vida saboreando profundamente cada momento!


Já se passaram cinco anos após o momento da descoberta da doença e, ao longo destes anos, tenho sido cumpridora com as datas dos exames e idas às consultas. Na realidade, umas vezes vou sozinha, outras vezes, quando me sinto mais dominada pelos meus medos, faço questão de ir acompanhada. É muito bom sentir que há sempre alguém próximo de mim e que tem muito prazer em ajudar. O quanto este elo fortalece os laços que me unem aos outros, alma e coração ficam cheios!!!...»

Hoje, exactamente no dia que faço 5 anos que fui operada e me foi retirado o cancro que estava alojado na minha mama, faço questão de comemorar esta data tão importante de uma forma especial! Aliás, todos os anos, desde 24 de Junho de 2008, que adoro comemorar este dia com muita alegria, partilha de emoções e fazendo sempre um balanço da evolução positiva que a minha vida tem vindo a sofrer. 
Cada ano que passa sinto-o como uma bênção, uma vitória. Sinto-me grata por Deus me ter dado uma segunda oportunidade, fazendo-me renascer como uma nova mulher, uma nova Sandra. 
Presentemente aproveito a vida ao máximo, tento relativizar os problemas, com facilidade filtro as energias menos positivas que tendem a aproximar-se e minar a minha tão preciosa paz e equilíbrio e acima de tudo valorizo-me muito como pessoa. 
O meu amor próprio e o prazer de viver estimula-me a partilhar estes momentos com todos vocês sempre no sentido de ajudar e mais uma vez provar que todas as emoções, medos e inseguranças que se vão sentido numa fase pós-trauma são puramente humanos e que nunca nos devemos culpabilizar ou sentir uns fracos por isso. E é para isso que aqui estou, mais uma vez, na partilha do que me vai na alma.

E assim, parabéns a mim, a todos familiares e amigos que me têm acompanhado de forma tão incansável neste percurso. 
Pessoal hoje fazemos 5 anos, logo, temos festarola garantida -Viva la Vita!!!

Nota: Esta mensagem tem um excerto de um capítulo do livro que estou a escrever e que brevemente será publicado. Brevemente haverá novidades nesse sentido. É só aguardar com a paciência do coração!