domingo, 20 de outubro de 2013

Calendário Solidário

 Nádia Morado e Tiago Braga são dois jovens maravilhosos que pelas suas características de grande sensibilidade perante determinados assuntos da vida tomaram a iniciativa de criar um projecto que deram o nome "FOTOGRAFIA SOLIDÁRIA". 

Embora se  considerem amadores são grandes apaixonados pela fotografia o que, na minha humilde opinião, sem dúvida alguma os torna nuns "profissionais" de grande valor! 

A sua paixão pela fotografia, dois corações com grande vontade em ajudar, humildade e um acreditar persistente e bem definido  foram alguns  dos ingredientes necessários para que este projecto tão bonito se tornasse num êxito pelas mãos destes dois jovens!

A estes dois jovens veio juntar-se mais uma jovem maravilhosa que igualmente deu tudo de si e de uma forma voluntária para que este projecto criasse corpo e vida. A Lénia Maria trabalha na Associação Oncológica do Algarve no departamento de Eventos, Comunicação e Relações Publicas mas a título pessoal enriquece a sua vida e a dos outros com Aconselhamentos de Beleza!
Esta parceria entre a Fotografia Solidária e a Associação Oncológica do Algarve foi "ouro sobre azul", ou seja, criou-se uma equipa de trabalho com grandes e excelentes ideias. A cada passo a Lénia no seu meio de trabalho - na AOA - conseguiu contactar pessoas oncológicas a convidá-las a participar no projecto, contactou determinadas empresas a pedir autorizações para permitir as sessões fotográficas entre muitas outras situações tão necessárias...

O projecto em si é emocionante, delicado, simples e grandioso no seu resultado final!
 ASSIM NASCEU O
 CALENDÁRIO SOLIDÁRIO

A capa do calendário
 Cada mês é representado por uma ou mais mulheres oncológicas -  umas que já passaram pela doença e outras que ainda continuam na luta mas que também já são umas verdadeiras vencedoras!

As maquilhagens das modelos foram criadas pela doce consultora de beleza Lénia Maria.

Os ambientes de fundo foram escolhidos por algumas modelos e outros foram sugeridos pela própria AOA para facilitar alguns aspectos burocráticos, nomeadamente as devidas autorizações.
  
Cada modelo escolheu uma palavra que escreveu no cartaz que as acompanhou em todas as fotos. Estas palavras são mensageiras de exemplos de força, coragem e atitudes positivas dirigidos a todos que, de uma forma ou de outra, precisam de estímulos positivos para as suas vidas.

A cada modelo foi feita uma entrevista onde foi possível dar-se a conhecer e partilhar alguns desabafos acerca da doença, revelar desejos, sonhos e claro justificar a escolha da sua palavra mensageira.

Os calendários tomaram forma física graças à ajuda de alguns empresários do Algarve que tão simpaticamente patrocinaram a sua impressão.
O objectivo final é para ajudar a Associação Oncológica do Algarve em que o valor das vendas reverterá na totalidade a favor do projecto "Casa Flor das Dunas". Projecto este que visa a possibilitar alojamento para os doentes oncológicos que residem longe dos locais dos seus tratamentos.


 Grupo das modelos
A maquilhadora Lénia (1ª à esq.)
 Os mentores do projecto Nádia (1ª à dtª) e Tiago (um homem entre mulheres,lol)



Quis o destino que estes jovens me procurassem...
Assim tal como me apresentaram as ideias dos seus projectos assim me convidaram para fazer parte de um deles! Eu nem tive como recusar. Pois fiquei super empolgada e super feliz em perceber que me estava a ser dada a oportunidade de, mais uma vez, dar a cara por uma causa que também é minha - ajudar pessoas oncológicas, seus familiares, seus amigos, a associação oncológica do Algarve... Enfim, AJUDAR!!!

Não posso deixar de partilhar o orgulho que sinto por ter participado activamente neste projecto, foi uma experiência de extrema riqueza a todos os níveis. 
Mais uma vivência que me trouxe enriquecimento ao meu ser! 
Lidar com pessoas que comunicam com o coração, sentir que todas estas mulheres coragem partilham do mesmo gosto pela vida e que todos os momentos para a concretização deste calendário foram seguramente vividos com alegria e grande partilha entre todos os intervenientes. 

Por mim falo... 

Após a minha sessão fotográfica, que foi num lindo fim de tarde de Domingo no meu "retiro" que é um sitio idílico onde frequentemente recorro para recarregar as minhas energias - a ponte da praia da Quinta do Lago -, senti-me como a princesa do baile dos contos de fadas, rodeada de atenções e miminhos!!! Cada pose, cada brincadeira trocada entre nós e cada sorriso transmissor de verdadeira alegria, sentia-me uma abençoada por Deus por estar a viver aquele momento e naquele sitio onde tantas vezes, na fase da minha doença, fui chorar e falar com Deus para pedir possibilidade de cura. Como a vida nos tira mas também nos dá coisas maravilhosas e momentos inesquecíveis! Este então, estava sem duvida alguma a ser um deles e acreditem que em cada fotografia isso ficou muito bem explicito.  
Mas uma coisa gostava de salientar - não pensem que a euforia que falo ao ser fotografada seria por vir a aspirar ser famosa. Não. Nada disso importava ou importa de todo! Ali, naquele momento, importava sim ser fotografada para partilhar como é maravilhoso estar viva e o quanto ter uma segunda oportunidade de viver fez de mim uma mulher renovada que me ensinou a acordar diariamente com uma imensa gratidão por usufruir de todos os momentos belos da vida.

Escolhi representar o mês de Abril porque é o mês do meu nascimento, muito embora agora tenha mais um mês de comemoração, o Junho que de há 5 anos para cá é o mês do meu renascimento. Imaginem só que sortuda que sou! A cada novo ano, duas festas, dois bolos com velinhas, abraços e beijinhos a dobrar. Este ano foram os 40  e os 5 anos correspondentes ao do nascimento e do renascimento. E venham muitos mais...eheheh!

E por isso tudo, a minha frase continua a ser sempre a mesma com todo o sentido
 VIVA LA VITA 

Abril, águas mil!!!

Algumas fotos da minha sessão...




Entretanto com mais três mulheres maravilhosas que hoje são minhas amigas, a Clasina, a Carla e a Vitória, e por termos um factor em comum - todas passamos por um cancro de mama -, decidimos dar o rosto pelo mês de Outubro, por ser um mês que nos sensibiliza a todos.

Foi uma tarde maravilhosa, recheada de sorrisos e carregada de emoções.

No mesmo retiro - ponte da praia da Quinta do Lago - criamos um cenário de "piquenique rosa" e resultou num momento inesquecível e mágico!

Ora espreitem lá...

A nossa mesa de piquenique

O lindo e artístico bolo com uma ursinha laço rosa oferecido pela nossa querida Paula - "Bolos dos Rafinha"


Mais um pormenor,  cupcakes também oferecidos pelos "Bolos do Rafinha"

A Clasina, a Vitória, a Sandra e a Carla

Clasina e Sandra

Carla e Sandra

Vitória e Sandra

E só me resta partilhar mais algumas informações úteis sobre a forma como ter acesso ao Calendário Solidário e como ver mais detalhes da sua construção, conhecer todas as modelos, as fotografias de cada sessão, os vídeos das entrevistas e muito mais... 

Espero ter conseguido partilhar mais um momento da vida bonito e que, principalmente, leve a todos exemplos de vidas revelando que mesmo após uma batalha tão difícil, como o de lutar contra um cancro, somos mulheres de força positiva para levar a nossa vida para a frente e sempre com o propósito de ajudar o próximo.


Informações:

Associação Oncológica do Algarve
 
Fotografia Solidária
 
Cláudia Chaves
(Uma guerreira que representa o mês Março do nosso calendário e que ainda continua na luta contra um cancro raro - leiomiossarcoma - e que precisa de todo o nosso apoio)

Bolos do Rafinha

Um bem haja a todos que possibilitaram este maravilhoso trabalho e sinceramente espero chegar ao coração de todos de forma a incentivá-los a contribuir para esta causa - ao adquirir um calendário estará a contribuir com 5€.

Beijinhos com amor,
Sandra Matinhos



 

 



segunda-feira, 24 de junho de 2013

Faço 5 anos, estou de parabéns!!!



«Depois de ter terminado todos os tratamentos de quimioterapia e radioterapia em Agosto de 2009 seguiu-se uma temporada a que chamei de “descanso de guerreira” que vivi com a maior alegria possível, diria até que, com uma euforia enorme em que a sensação era de fazer, ver e sentir tudo que tinha sido privada nos últimos tempos... Até o palpitar do meu coração era mais sentido, parecia que até ele dançava ao som da emoção que eu sentia aquando sorria cada vez que pensava que estava livre. 
Como era bom saborear a minha liberdade!

Sensivelmente uns três meses depois do término dos tratamentos, deu-se início às consultas de rotina com os respectivos exames médicos para assim se ir avaliando a estabilidade da minha declarada cura. Nada que já não soubesse. Mas, somente aos poucos é que me fui apercebendo que durante mais uns anos esta seria uma nova rotina a adaptar à minha nova vida, o que na verdade fez-me consciencializar que realmente não estaria desvinculada do hospital de uma vez por todas, o que despoletou em mim um misto de sensações. Por um lado, sentia a já mencionada euforia de viver que me fazia sentir finalmente livre daquela vida “aprisionada”, parecia que me tinham aberto a porta da gaiola, mas por outro lado, ao querer abrir novamente as minhas asas e voar livremente sentia que já não seria possível fazê-lo da mesma forma e na sua plenitude total. 
Confusos?! É normal que sim, pois foi exactamente assim que me senti. 
Ora bem, quando represento em sentido figurado esta fase, quero naturalmente mostrar o quanto não me sentia totalmente livre e o porquê de no início não entender bem estas minhas sensações, uma vez que não era nada de novo para mim saber da existência destas rotinas médicas e exames. Sabia exactamente que seria assim que as coisas iriam funcionar.

Curiosamente, ao longo dos tratamentos me dei ao luxo, por puro merecimento, de florear este quadro - término dos tratamentos - de forma a ser o mais intenso e inesquecível possível para que pudesse suplantar todas as outras fases menos boas. Sabem aquela estratégia de criarmos algo de muito bom para esquecer tudo o resto? Sem dúvida que a última fatia do bolo, a mais apetecível, seria a minha! Mas, este momento não estava a ser exactamente tal como o tinha idealizado, na dita fatia faltava a tão desejada cereja do topo… 
Com alguma impaciência e ânsia tentava vislumbrar, algo que me iria trazer a tão desejada segurança e fazer desaparecer os medos que se haviam instalado em mim. É verdade que várias vezes dei por mim a tentar interpretar o que realmente me ia na alma. Tentando incessantemente decifrar quais eram efectivamente os medos que ainda se mantinham e os novos que estavam a aflorar na minha pessoa como se fossem pipocas a saltitar nas minhas emoções. Medos que eu já não esperava vir a sentir. Ingenuamente achava que, como já tinha sido sujeita ao pior dos piores, já estaria vacinada para tudo o resto que viesse daí para o futuro. Realmente que ingenuidade a minha! O pesado fardo dos tratamentos haviam terminado sim, mas isso não significava que não haveriam novos medos a surgir!

Foi então que percebi tudo!
Perante a proximidade das primeiras datas agendadas para fazer os novos exames médicos e de voltar às consultas com o oncologista para saber os resultados dava por mim num ataque incontrolável de ansiedade, a dormir muito mal, a comer pouco, a chorar frequentemente de tudo e de nada, a imaginar ouvir do médico que havia mais qualquer coisa relacionado com o cancro... Nitidamente os meus diabinhos estavam ao rubro dos rubros espicaçando a minha paz e minando tudo aquilo que eu havia idealizado. Mas que danadinhos estes maganos!

 Talvez até aqui eu não me quisesse consciencializar que os próximos anos iriam ser como viver uma liberdade condicional. Hoje, onde já vai havendo algum distanciamento dessa fase, dou por mim a conviver melhor e com mais calma esses momentos que continuam naturalmente a repetir-se. A rotina de consultas e exames instalou-se e com o continuar do tempo fui-me adaptando e desenvolvendo algumas estratégias de defesa. Para isso pude contar com a preciosa e sábia ajuda da minha psicóloga Ana Sofia Baptista que soube fazer-me acreditar que agi naturalmente  e de forma adequada  cada fase, reagindo com o meu natural instinto de defesa e com a minha capacidade nata de ver sempre o lado positivo das coisas. Fez-me aceitar ainda que, uma vez que o “botão” do medo fora accionado já não havia forma de o desligar. Havia sim, formas sábias de lidar com os cliques que este “botão” iria despertar ao longo do meu futuro. E foi assim que somei mais um grande ensinamento a nível pessoal com grande aplicação prática. Todos temos os nossos medos, é um facto, mas tudo se torna mais fácil quando os identificamos e aprendemos a lidar com eles, enfrentando-os! É verdade que conseguem fazer com que me sinta a viver numa liberdade condicional mas não conseguem, de todo, tirar-me o prazer de viver a minha nova vida saboreando profundamente cada momento!


Já se passaram cinco anos após o momento da descoberta da doença e, ao longo destes anos, tenho sido cumpridora com as datas dos exames e idas às consultas. Na realidade, umas vezes vou sozinha, outras vezes, quando me sinto mais dominada pelos meus medos, faço questão de ir acompanhada. É muito bom sentir que há sempre alguém próximo de mim e que tem muito prazer em ajudar. O quanto este elo fortalece os laços que me unem aos outros, alma e coração ficam cheios!!!...»

Hoje, exactamente no dia que faço 5 anos que fui operada e me foi retirado o cancro que estava alojado na minha mama, faço questão de comemorar esta data tão importante de uma forma especial! Aliás, todos os anos, desde 24 de Junho de 2008, que adoro comemorar este dia com muita alegria, partilha de emoções e fazendo sempre um balanço da evolução positiva que a minha vida tem vindo a sofrer. 
Cada ano que passa sinto-o como uma bênção, uma vitória. Sinto-me grata por Deus me ter dado uma segunda oportunidade, fazendo-me renascer como uma nova mulher, uma nova Sandra. 
Presentemente aproveito a vida ao máximo, tento relativizar os problemas, com facilidade filtro as energias menos positivas que tendem a aproximar-se e minar a minha tão preciosa paz e equilíbrio e acima de tudo valorizo-me muito como pessoa. 
O meu amor próprio e o prazer de viver estimula-me a partilhar estes momentos com todos vocês sempre no sentido de ajudar e mais uma vez provar que todas as emoções, medos e inseguranças que se vão sentido numa fase pós-trauma são puramente humanos e que nunca nos devemos culpabilizar ou sentir uns fracos por isso. E é para isso que aqui estou, mais uma vez, na partilha do que me vai na alma.

E assim, parabéns a mim, a todos familiares e amigos que me têm acompanhado de forma tão incansável neste percurso. 
Pessoal hoje fazemos 5 anos, logo, temos festarola garantida -Viva la Vita!!!

Nota: Esta mensagem tem um excerto de um capítulo do livro que estou a escrever e que brevemente será publicado. Brevemente haverá novidades nesse sentido. É só aguardar com a paciência do coração!