«Depois de ter terminado todos os
tratamentos de quimioterapia e radioterapia em Agosto de 2009 seguiu-se uma temporada a que chamei de “descanso de guerreira” que vivi com a
maior alegria possível, diria até que, com uma euforia enorme em que a sensação era de
fazer, ver e sentir tudo que tinha sido privada nos últimos tempos... Até o
palpitar do meu coração era mais sentido, parecia que até ele dançava ao som da
emoção que eu sentia aquando sorria cada vez que pensava que estava livre.
Como
era bom saborear a minha liberdade!
Sensivelmente uns três meses depois do término
dos tratamentos, deu-se início às consultas de rotina com os respectivos exames
médicos para assim se ir avaliando a estabilidade da minha declarada cura. Nada
que já não soubesse. Mas, somente aos poucos é que me fui apercebendo que durante
mais uns anos esta seria uma nova rotina a adaptar à minha nova vida, o que na
verdade fez-me consciencializar que realmente não estaria desvinculada do hospital de uma
vez por todas, o que despoletou em mim um misto de sensações. Por um lado,
sentia a já mencionada euforia de viver que me fazia sentir finalmente livre
daquela vida “aprisionada”, parecia que me tinham aberto a porta da gaiola, mas
por outro lado, ao querer abrir novamente as minhas asas e voar livremente
sentia que já não seria possível fazê-lo da mesma forma e na sua plenitude
total.
Confusos?! É normal que sim, pois foi exactamente assim que me senti.
Confusos?! É normal que sim, pois foi exactamente assim que me senti.
Ora
bem, quando represento em sentido figurado esta fase, quero naturalmente
mostrar o quanto não me sentia totalmente livre e o porquê de no início não
entender bem estas minhas sensações, uma vez que não era nada de novo para mim
saber da existência destas rotinas médicas e exames. Sabia exactamente que seria
assim que as coisas iriam funcionar.
Curiosamente, ao longo dos tratamentos me dei
ao luxo, por puro merecimento, de florear este quadro - término dos tratamentos - de forma a ser o mais
intenso e inesquecível possível para que pudesse suplantar todas as outras
fases menos boas. Sabem aquela estratégia de criarmos algo de muito bom para
esquecer tudo o resto? Sem dúvida que a última fatia do bolo, a mais apetecível, seria a
minha! Mas, este momento não estava a ser exactamente tal como o tinha
idealizado, na dita fatia faltava a tão desejada cereja do topo…
Com alguma impaciência e ânsia tentava vislumbrar, algo que me iria
trazer a tão desejada segurança e fazer desaparecer os medos que se haviam
instalado em mim. É verdade que várias vezes dei por mim a tentar interpretar o
que realmente me ia na alma. Tentando incessantemente decifrar quais eram efectivamente os
medos que ainda se mantinham e os novos que estavam a aflorar na minha pessoa
como se fossem pipocas a saltitar nas minhas emoções. Medos que eu já não
esperava vir a sentir. Ingenuamente achava que, como já tinha sido sujeita ao
pior dos piores, já estaria vacinada para tudo o resto que viesse daí para o
futuro. Realmente que ingenuidade a minha! O pesado fardo dos tratamentos haviam
terminado sim, mas isso não significava que não haveriam novos medos a surgir!
Foi então que percebi tudo!
Perante a proximidade das primeiras datas agendadas para fazer os novos exames médicos e de voltar às consultas com o oncologista para saber os resultados dava por mim num ataque incontrolável de ansiedade, a dormir muito mal, a comer pouco, a chorar frequentemente de tudo e de nada, a imaginar ouvir do médico que havia mais qualquer coisa relacionado com o cancro... Nitidamente os meus diabinhos estavam ao rubro dos rubros espicaçando a minha paz e minando tudo aquilo que eu havia idealizado. Mas que danadinhos estes maganos!
Perante a proximidade das primeiras datas agendadas para fazer os novos exames médicos e de voltar às consultas com o oncologista para saber os resultados dava por mim num ataque incontrolável de ansiedade, a dormir muito mal, a comer pouco, a chorar frequentemente de tudo e de nada, a imaginar ouvir do médico que havia mais qualquer coisa relacionado com o cancro... Nitidamente os meus diabinhos estavam ao rubro dos rubros espicaçando a minha paz e minando tudo aquilo que eu havia idealizado. Mas que danadinhos estes maganos!
Talvez
até aqui eu não me quisesse consciencializar que os próximos anos iriam ser
como viver uma liberdade condicional. Hoje, onde já vai havendo algum
distanciamento dessa fase, dou por mim a conviver melhor e com mais calma esses
momentos que continuam naturalmente a repetir-se. A rotina de consultas e
exames instalou-se e com o continuar do tempo fui-me adaptando e desenvolvendo
algumas estratégias de defesa. Para isso pude contar com a preciosa e sábia
ajuda da minha psicóloga Ana Sofia Baptista que soube fazer-me acreditar que agi naturalmente e de
forma adequada cada fase, reagindo com o meu natural instinto de defesa e com
a minha capacidade nata de ver sempre o lado positivo das coisas. Fez-me
aceitar ainda que, uma vez que o “botão” do medo fora accionado já não havia
forma de o desligar. Havia sim, formas sábias de lidar com os cliques que este
“botão” iria despertar ao longo do meu futuro. E foi assim que somei mais um
grande ensinamento a nível pessoal com grande aplicação prática. Todos temos os
nossos medos, é um facto, mas tudo se torna mais fácil quando os identificamos
e aprendemos a lidar com eles, enfrentando-os! É verdade que conseguem fazer com
que me sinta a viver numa liberdade condicional mas não conseguem, de todo,
tirar-me o prazer de viver a minha nova vida saboreando profundamente cada
momento!
Hoje, exactamente no dia que faço 5 anos que fui operada e me foi retirado o cancro que estava alojado na minha mama, faço questão de comemorar esta data tão importante de uma forma especial! Aliás, todos os anos, desde 24 de Junho de 2008, que adoro comemorar este dia com muita alegria, partilha de emoções e fazendo sempre um balanço da evolução positiva que a minha vida tem vindo a sofrer.
Cada ano que passa sinto-o como uma bênção, uma vitória. Sinto-me grata por Deus me ter dado uma segunda oportunidade, fazendo-me renascer como uma nova mulher, uma nova Sandra.
Presentemente aproveito a vida ao máximo, tento relativizar os problemas, com facilidade filtro as energias menos positivas que tendem a aproximar-se e minar a minha tão preciosa paz e equilíbrio e acima de tudo valorizo-me muito como pessoa.
O meu amor próprio e o prazer de viver estimula-me a partilhar estes momentos com todos vocês sempre no sentido de ajudar e mais uma vez provar que todas as emoções, medos e inseguranças que se vão sentido numa fase pós-trauma são puramente humanos e que nunca nos devemos culpabilizar ou sentir uns fracos por isso. E é para isso que aqui estou, mais uma vez, na partilha do que me vai na alma.
E assim, parabéns a mim, a todos familiares e amigos que me têm acompanhado de forma tão incansável neste percurso.
Pessoal hoje fazemos 5 anos, logo, temos festarola garantida -Viva la Vita!!!
Nota: Esta mensagem tem um excerto de um capítulo do livro que estou a escrever e que brevemente será publicado. Brevemente haverá novidades nesse sentido. É só aguardar com a paciência do coração!
Oh Sandra, eu nem sei bem como poderei comentar este seu excerto, em primeiro lugar deixe-me dizer que lhe aplaudo de pé, por tudo! A Sandra é sem duvida uma força da Natureza e que contagia um sorriso inevitável em todos os locais por onde passa, a sua presença torna o local mais alegre, mais cheio de vida, cheio de nós próprios.
ResponderEliminarMuitos Parabéns a si, pela sua coragem e força, até porque não deve ser nada fácil retomar e reviver esta memórias por vezes tão dolorosas, enquanto escreve este seu livro. Acredito que seja um processo dificil, mas que ainda assim o encara com um grande sorriso o que afasta logo todos estes diabinhos.
Neste excerto gostei especialmente na parte em que se refere á dita confusão, acho que retrata na verdade uma grande parte e um momento muito particular na vida de todas as pessoas que passam pelo mesmo, é sem duvida um misto de sentimentos uma montanha russa.
Ao ler este seu texto, poder ter o prazer de a conhecer e "beber" um pouco da sua energia e vivacidade deparo-me com uma conclusão minha, que é a seguinte:
Não querendo ser mal interpretado, acredito que por vezes o cancro apresenta-se como um processo de purificação, pois as pessoas que são posta à prova neste tremendo desafio, chegam à meta final (Vitória) totalmente renovadas e reinventadas. Admiro imenso este processo de autoreconstrução e metamorfose, onde as pessoas como a Sandra, passam a ver a vida com outros olhos e de facto são sem duvida seres genuinos ( até mesmo, individuos à parte, porque são sem duvida puros, como que tocados pela mão de Deus), que disfrutam e VIVEM a vida ao máximo. Não se limitam a respirar, como o comum dos mortais (até mesmo eu), são pessoas que realmente estão cá e encaram a vida como todos nós deviamos encarar, no fundo são um exemplo uma lição que todos deviamos anotar! Consegue entender, esta minha forma de pensar? Espero terme conseguido fazer entender, pois sou meio confuso com as palavras.
Querida Sandra, espero que mantenha sempre este seu sorriso, esta sua forma de estar, porque na verdade ao pé de si, não precisamos de muito para conseguir sorrir, sai-nos assim naturalmente! Para mim foi um prazer poder conhecer a Sandra, pode acreditar que sim.
Obrigado por nos tornar um bocadinho melhores, e pode acreditar que sempre que ouvir VIVA LA VITA, irei sempre lembrar-me de si!
Um bem haja, um grade beijinho
Tiago Braga (com uma lágrima no canto do olho)
Meu querido Tiago quem ficou com umas lágrima nos olhinhos fui eu... As suas palavras são deveras tocantes, emocionam-me! Ao lê-lo faz-me sentir uma Sandra super especial por saber que de uma forma muito genuína, contagio as pessoas à minha volta pelo lado positivo!
ResponderEliminarSabe Tiago, foi para isso e muito mais que Deus me tocou - renascer renovada e reinventada, (adorei esta sua descrição eheheheh).
Com isto só lhe posso mesmo dizer, e espero não vir a ser mal interpretada por ninguém que, este cancro não veio para me matar, mas sim para matar outros cancrozitos que teimosamente permaneciam na minha vida e eu não sabia sacudi-los. Este "gajo" fez-me um grande favor e nem sabe como... Entre muitas coisas fez também uma purificação à minha vida em todos os sentidos, ouvir - ver - cheirar - saborear - sentir com os "sentidos" da alma e isso explica tudo o resto!
O que dou de mim é puro, é alegria, é emoção... tudo isto porque simplesmente reflecte aquilo que sou!
Obrigada por saber me "sentir" dessa forma e muito obrigada por ser a pessoa que é, um jovem rico de boas atitudes, valores morais, extremamente solidário e genuíno na sua forma de ser e estar perante a vida. Adoro isso em si meu querido!
Um beijo do coração